Dia HD 2014

Publicado em hdbr.hypotheses.org em 13.10.2014

O “Dia das Humanidades Digitais 2014” (versão em espanhol e português) terá lugar no dia 15 de outubro de 2014.

logo-pt-PTDia HD é um projeto de pubicação coletiva que pretende documentar um dia de trabalho de pessoas que estejam envolvidas em pesquisas que ligam as humanidades e a computação. Pretende-se reunir pessoas de todo o mundo, que falem ou trabalhem primordialmente nos idiomas espanhol e português, para através de texto e imagem registar os eventos e atividades de um dia de trabalho. O objetivo do projeto é cruzar num único local os labores de todos os participantes, deste modo elaborando um recurso digital com o qual se possa responder à questão “O que fazem os humanistas digitais?Continue reading

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Da “publicação”

Publicado em hdbr.hypotheses.org em 18.09.2014

Um estudo recente da American Academy of Arts and Sciences evidencia um problema extremamente interessante no campo das humanidades, e que tem sido menos discutido do que poderia – o estatuto atual do nosso conceito de “publicação“. Segundo o estudo, entre os critérios para a ascensão de carreira para pesquisadores nas humanidades nos EUA, “publication” é considerado essencial, e “public humanities” é o menos valorizado – sendo as tais “humanidades públicas” definidas como “making the humanities and/or humanities scholarship accessible to the general public“.

Detail of a miniature of a scribe demonstrating to his pupils, from Jean Corbechon’s translation of Bartholomaeus Angelicus’ De proprietatibus rerum, France (Paris?), 1st quarter of the 15th century, Royal MS 17 E III, f. 209r - http://britishlibrary.typepad.co.uk/digitisedmanuscripts/2014/06/the-burden-of-writing-scribes-in-medieval-manuscripts.html#sthash.Bn9DoJgp.dpuf
Detail of a miniature of a scribe demonstrating to his pupils, from Jean Corbechon’s translation of Bartholomaeus Angelicus’ De proprietatibus rerum, France (Paris?), 1st quarter of the 15th century, Royal MS 17 E III, f. 209r – http://britishlibrary.typepad.co.uk/digitisedmanuscripts/2014/06/the-burden-of-writing-scribes-in-medieval-manuscripts.html

Duas coisas chamam a atenção: primeiro, que tornar a produção acadêmica acessível ao público geral não é valorizado; “publicar”, sim. E mesmo antes disso: já a separação dos dois critérios – publicar, de um lado, e tornar acessível ao público “geral”, de outro, já nos mostra que publicar não é o mesmo que tornar público. Vemos aí, explicitada de modo raro, a complexidade do uso do termo “publicar” no ambiente acadêmico atual. Não conheço estudos semelhantes para outros países – mas a experiência acadêmica cotidiana e a convivência com os critérios de pontuação de carreira e pesquisa no Brasil podem nos mostrar facilmente que, pelo menos por aqui, a situação não é diferente: ganham-se pontos por “publicar“, mas não se ganham pontos por publicar… publicamente. Isso pode nos fazer refletir, de fato, sobre o que significa, hoje, publicar. Continue reading

A Volta ao Mundo das Humanidades Digitais em 80 dias: P.S.

AHDig

Imagem 383O dia 73 do projeto Around DH in 80 Days destacou mais um projeto da rede AHDig – Post Scriptum: Arquivo Digital de Escrita Quotidiana em Portugal e Espanha na Época Moderna.

Conduzido na Universidade de Lisboa pela equipe liderada pela Profa. Rita Marquilhas, membro da Comissão de Fundação da AHDig, o P.S. vem reunindo e estudando uma coleção de cartas privadas escritas durante a Idade Moderna na Península Ibérica. O material trabalhado no projeto é singularmente valioso, já que representa a escrita de indivíduos de diversas classes sociais, que nem sempre tem voz na historiografia – nesse caso, sua escrita ficou registrada em arquivos de processos judiciais, como provas de delitos:

“Podiam ser amos ou criados, adultos ou crianças, homens ou mulheres, ladrões, soldados, artesãos, padres, militantes políticos e outros tipos de agentes sociais. A sua epistolografia sobreviveu em casos excecionais, quando os seus percursos se cruzaram com os meios…

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Creative Commons na produção científica: um guia rápido

Publicado em hdbr.hypotheses.org em 05.09.2014

cc-logoO sistema Creative Commons, que  já completa doze anos de funcionamento, tem recebido adesão crescente no mundo todo. O Brasil, em especial, é pioneiro na implantação do  CC nas área da administração pública e do software livre.

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Na área da produção acadêmica, entretanto, o conceito do licenciamento de conteúdos pelo CC é menos difundido. Muitos dos pesquisadores que passaram a publicar mais autonomamente seus trabalhos em rede – seja nos repositórios institucionais (como os bancos de teses das universidades públicas), seja em portais de auto-arquivamento como o academia.edu, seja em blogs e websites independentes – ainda não conhecem as possibilidades e garantias propiciadas pelo licenciamento nesse sistema.

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Um artigo recentemente publicado no portal MyScienceWork, A Creative Commons Guide to Sharing Your Science, traz um guia rápido e de fácil acesso, acompanhado de uma discussão bem detalhada sobre o uso do CC na ciência, e pode ser de interesse para esses pesquisadores.  O artigo contém uma entrevista com Puneet Kishor , coordenador para projetos científicos e políticas de dados do Creative Commons, que apresenta suas considerações sobre as vantagens do uso desse sistema de licenças do ponto de vista da visibilidade e ampla divulgação do trabalho científico.

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Kishor toca, também, na questão do alcance e das limitações jurídicas do sistema. Para os pesquisadores brasileiros, em complementação ao que coloca Kishor sobre esse ponto em particular, interessará também consultar o estatuto do sistema CC no ordenamento jurídico brasileiro.

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Gerido no país pelo CTSCentro de Tecnologia e Sociedade – da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro – o Creative Commons  funciona de maneira inteiramente compatível com a legislação brasileira.  Para maiores informações sobre os aspectos legais, consulte o site do CTS – e, para saber mais sobre o sistema Creative Commons no Brasil em geral, veja o site oficial Creative Commons Brasil.

Seguem algumas outras ligações para os interessados no tema:


P.S. Nosso site, desde seu lançamento em 2011, usa a licença Creative Commons by-nc-sa , ou Atribuição – Uso Não Comercial – Compartilhamento pela mesma Licença.  Segundo a rubrica do CC-Brasil, “Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem obras derivadas sobre a obra original, desde que com fins não comerciais e contanto que atribuam crédito ao autor e licenciem as novas criações sob os mesmos parâmetros. Outros podem fazer o download ou redistribuir a obra da mesma forma que na licença anterior, mas eles também podem traduzir, fazer remixes e elaborar novas histórias com base na obra original. Toda nova obra feita a partir desta deverá ser licenciada com a mesma licença, de modo que qualquer obra derivada, por natureza, não poderá ser usada para fins comerciais“.

“Novas práticas culturais da escrita, novas perspectivas da Crítica Textual”

Publicado em hdbr.hypotheses.org em 20.08.2014

O Pasquineiro da Roça - www.eulaliomotta.com.br

Os impactos da difusão digital no campo amplo das humanidades tem sido intensamente reconhecidos e debatidos – mas há uma região desse amplo terreno na qual os efeitos são particularmente transformadores: a crítica textual. Disciplina milenar na origem dos estudos humanísticos modernos, a crítica textual tem no texto, a um tempo, seu objeto e seu instrumento de trabalho. Nesse campo, as tecnologias de difusão digital trouxeram grandes mudanças metodológicas, provocando transformações profundas que estiveram no cerne dos grandes debates sobre os impactos da computação sobre as humanidades antes mesmo do termo “Humanidades Digitais” ser cunhado. No ambiente da crítica textual em língua portuguesa, os efeitos do trabalho em meio eletrônico chegam em anos mais recentes, mas com grande força (como discutem Ana Paula Banza e Maria Filomena Gonçalves no volume recente que comentamos aqui).

No Brasil, em particular, das pesquisas ocupadas em explorar as alianças entre as tecnologias digitais e o trabalho tradicional da crítica textual destaca-se o projeto da edição do acervo do escritor baiano Eulálio Motta, empreendido por Patrício Nunes Barreiros em sua tese de doutoramento na Universidade Federal da Bahia, defendida em 2013 sob orientação da professora Célia Marques Telles, resultando no portal O Pasquineiro da Roça. Mais recentemente, no artigo Novas práticas culturais da escrita, novas perspectivas da Crítica Textual: rumo às hiperedições” –  cf. [1],  Barreiros discute as transformações trazidas pelo meio digital para a prática do trabalho em crítica textual, mostrando alguns elementos importantes da experiência da construção do Pasquineiro, e, principalmente, trazendo à tona as mais recentes discussões teóricas e metodológicas da área.

Entre os vários os pontos de interesse do artigo, queremos destacar os dois que mais evidenciam a relevância de sua leitura. O primeiro é a informação bibliográfica trazida pelo artigo: o quadro das referências trabalhadas e discutidas por Barreiros inclui autores que não tem estado muito presentes nos trabalhos em língua portuguesa da área – é o caso, muito especialmente, da obra de José Manuel Lucía Mejías, examinada no artigo em diferentes instâncias [2]. O segundo ponto, talvez ligado a esse primeiro, é a abordagem conferida pelo artigo ao conceito de “hiperedição“. Partindo de uma apresentação ampla de algumas definições importantes na literatura, onde se destaca o caráter multifacetado da hiperedição (“…uma edição híbrida que apresenta novas potencialidades de leitura e análise dos textos“), Barreiros passa a mostrar os efeitos singulares dessa forma de tratamento textual sobre os objetivos do trabalho crítico. Em particular, salientaríamos o seguinte trecho dessa discussão (Barreiros, 2014:54):

A principal característica de uma hiperedição é que ela somente se efetiva no meio digital, diferente de outros tipos de edições digitais, às vezes chamadas de eletrônicas ou hipertextuais, que reproduzem os modelos das edições pensadas para o universo dos impressos

Esse é um ponto central da discussão, a meu ver – e é de fato o que nos permite compreender mais profundamente o que foi declarado brevemente mais acima sobre a importância dos efeitos do meio digital para a crítica textual. Notemos, a partir do que diz Barreiros, que a hiperedição é um trabalho feito no meio digital, e não simplesmente um trabalho de edição tradicional veiculado no meio digital. Essa distinção é importante por nos permitir entender como as tecnologias digitais se entranham na prática do trabalho de edição, e passam a compor, aí, uma nova metodologia.

Mais que isso: a discussão trazida por Barreiros nos permite compreender (como poucas no ambiente da filologia em português) que o trabalho de edição no meio digital pode ir muito além da adaptação apressada de técnicas advindas do impresso. Pode, de fato, renovar a prática filológica e lhe conferir uma relevância de que (suspeito) poucos já se deram conta, justamente neste momento em que temos a possibilidade de re-editar o patrimônio da cultura escrita em português. A reflexão de Barreiros é pioneira nesse sentido, como foi seu trabalho com o acervo de Eulálio Motta – tornando seu artigo mais recente leitura de relevância central para os interessados nos horizontes que se abrem para o trabalho nas humanidades frente às novas formas de produção e difusão do texto.

Referência Completa

Barreiros, Patrício Nunes. Novas práticas culturais da escrita, novas perspectivas da Crítica Textual: rumo às hiperedições. Filolologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 31-62, jan./jun. 2014. Disponível em http://revistas.usp.br/flp/article/view/83492/86440

Leituras Sugeridas – Referências em Barreiros, 2014

Lucía Megías, José Manuel. 2006. De las bibliotecas a las plataformas de conocimiento (notas sobre el futuro del texto en la era digital). In: Santiago, Ramón; Valenciano, Ana; Iglesias, Silvia. Tradiciones discursivas, edición de textos orales y escritos. Madrid: Editorial Compultense.

Lucía Megías, José Manuel. 2007. Hacia nuevos paradigmas textuales (edición y difusión de los textos literarios en el siglo XXI). Madrid: Universidad Complutense de Madrid.

Lucía Megías, José Manuel. 2008. La informática humanística: una puerta abierta para los estudios medievales en el siglo XXI. Revista de Poética medieval, n. 20, Madrid, pp. 163-185.

Lucía Megías, José Manuel. 2010. Reflexiones en torno a las plataformas de edición digital: el ejemplo de la Celestina. In: Poalini, Devid. (Coord.). De ninguna cosa es alegre posesión sin compañía, estudios celestinescos y medievales en honor del profesor Joseph Thomas Snow. Tomo I. New York: Seminário Hispánico de Estudios Medievales, p. 226-251.

Lucía Megías, José Manuel. 2012. Elogio del texto digital, claves para interpretar el nuevo paradigma. Madrid: Fórcola.

 

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