Publicado em http://hdbr.hypotheses.org/4968 em 02/05/2014.
Em 7 e 8 de maio, acontece o Simpósio 500 Anos de Alemães no Brasil, realizado pela Área de Língua e Literatura Alemã do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, inaugurando a exposição Iconografia na Coleção Mindlin de Livros Alemães do Século XVI ao Século XX – ambos na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP. A programação completa do Simpósio está disponível em http://sce.fflch.usp.br/node/1711. Os eventos, complementares, são promovidos por duas equipes: o Grupo de Pesquisas RELLIBRA – “Relações Linguísticas e Literárias Brasil-Alemanha”, fundado e certificado em 1993, credenciado na USP e no CNPq, coordenado pela Profa. Dra. Celeste Henriques Marquês Ribeiro de Sousa (DLM-FFLCH-USP); e a equipe de Catalogação, descrição e edição de documentos impressos em língua alemã na Brasiliana Digital, coordenada pelo Prof. Dr. José da Silva Simões (DLM-FFLCH-USP), vinculada ao Grupo de Pesquisas Humanidades Digitais, também cadastrado como grupo de pesquisa no CNPq, e sediado na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin entre 2011 e março de 2014.

Segundo, um lado diametralmente oposto – o orgulho agridoce de ver uma criança crescer e caminhar, independente, pelo mundo. Pois hoje os projetos da área de tradução em língua alemã originalmente abrigados em nosso grupo ganham novas dimensões, autônomas e maduras, como é esperado dos bons projetos. Muito além dos objetivos originais do nosso grupo – que se focavam, fundamentalmente, na extroversão do acervo com base nas tecnologias digitais – os projetos na área de alemão agora alcançam novos horizontes, muito mais amplos, como se vê nesse Simpósio e na sua discussão extremamente rica sobre a presença dos alemães no Brasil desde o século XVI. Assim deve ser – assim é o destino das boas – das excelentes – parcerias de pesquisa. Nesse contexto, nos permitimos aproveitar das prerrogativas do orgulho materno para salientar a felicidade do encontro entre a Biblioteca Mindlin da USP e o grupo responsável pela organização deste Simpósio, capitaneado por José Simões e Celeste Ribeiro de Sousa. Esses pesquisadores chegaram, magistralmente, a um objetivo que poucos atingem (um objetivo a que poucos, de fato, almejam): transformaram uma latência em uma potência. Ou seja: transformaram o tesouro escrito em alemão encerrado no acervo da Brasiliana Mindlin da USP em um universo vivo, trabalhável, muito além da latência – transmutação, que, afinal, é própria do milenar ofício da tradução, e do muito mais recente ofício da digitalização. Trata-se, nos dois casos de traduzir – afinal – num sentido profundo.

O nascimento dessas obras em nova forma – em novo formato, em nova língua, em novo momento histórico- representa, assim, a tarefa mais solene das humanidades desde a antiguidade – e-ditar, trazer à luz. A tradução, entretanto, está talvez entre as mais injustiçadas das artes (traduttore, traditore!), certamente por culpa da nossa incompreensão frente à tarefa imensa e dilacerante do tradutor, esse transmutador – esse alquimista das idéias. A digitalização, notemos, não é menos incompreendida, e não é menos injustiçada. E envolve, também ela, uma alquimia, uma transmutação poderosa: do papel para a tela, dos traços em pena para os bits – uma tradução material. O trabalho do tradutor-digitalizador, portanto, talvez esteja entre os mais ingratos, entre os menos apreciados… Mais uma razão para o nosso aplauso, nossa admiração e nosso orgulho pelo trabalho dos tradutores-digitais dos projetos da área de alemão do nosso Grupo de Pesquisas, e por seu Simpósio. Parabéns a todos! Aguardamos o Simpósio e a exposição com grande antecipação.